Bússolas geográficas

 

Bússola Geográfica

A bússola geográfica é indicada para atividades como jornadas com mapa.  Normalmente ela possui uma base em acrílico transparente,  que vem com régua e graduações gravadas na base de acrílico.  Com isso, fica fácil fazer a orientação da bússola, diretamente no mapa, e calcular distâncias e prolongamento de direções.

Normalmente uma bússola geográfica mede ângulos horizontais,  normalmente o Azimute.  Algumas possuem também a graduação em quadrantes para medir também o Rumo.

Aqui ao lado, vemos a clássica bússola Silva, que acabou sendo o padrão a ser seguido por inúmeros fabricantes.

   
Elite da Brunton Outback da Brunton
Bússola geográfica eletrônica.
Eclipse da Brunton Combinign da Brunton

A bússola de Geólogo

  A bússola de Geólogo é um aparelho usado para atividades de campo mais técnicas como: Geologia, Engenharia Civil, Geomorfologia e Espeleologia.

Ela é a combinação de vários aparelhos: bússola, clinômetro, prumo, nível. 

Uma bússola sempre aponta para o Pólo Norte?

Respostas corretas poderiam ser: Sim! ; Nem sempre!; Quase nunca!

Depende apenas de qual Norte estamos falando, de que bússola temos, e de onde estamos.  Vamos entender?

A bússola eletrônica de um GPS e alguns modelos de bússolas eletrônicas,  (se assim configuradas) podem apontar para o Norte, pois elas podem se orientar por uma rede de satélites.  Já as bússolas magnéticas (e uma boa parte das eletrônicas),  não.  Aliás,  antes disso, devemos entender que existem mais de um Norte.

Uma dúvida sobre polaridade

Se a Física ensina que em magnetismo pólos iguais se repelem, como é que a ponta Norte da agulha aponta para o Pólo Norte?  Será que os pólos da terra tem nome trocado, ou são os pólos da agulha que tem os nomes trocados?   Nenhum dos dois.  Por convenção,  foi chamado de Pólo Norte Magnético aquele que ficava perto do Pólo Norte Geográfico.  A agulha da bússola é um magneto,  e por convenção, leva o nome de Norte a extremidade de um magneto que aponta  para o Norte.  Tudo claro agora?

Para fins de cartografia e orientação, qual o Norte interessa?

Sem dúvida, o Norte Verdadeiro ou seja o Geográfico.  Por convenção,  o alinhamento vertical dos mapas aponta sempre para o Norte Verdadeiro.

Declinação Magnética

Para que uma bússola possa apontar para o Norte Verdadeiro,  é necessário fazer uma correção em seu círculo graduado. O valor em graus desta correção,  é chamada “Declinação Magnética”. 

Porquê declinação e não inclinação?   Simples,  quem criou o termo foram pessoas do hemisfério norte, onde o campo magnético desvia-se Oeste, e por isso deve-se subtrair-se do Azimute alguns graus para fazer a correção.  Por isso eles declinam a medida.  Nós aqui acrescentamos alguns graus ao Azimute, mas (sempre querendo concordar com os primos do Norte), usamos o mesmo termo “declinar”.

Vale a pena o trabalho de declinar a bússola?

A tabela abaixo mostra a diferença em graus entre o Norte Verdadeiro e a Direção apontada pela bússola.  Esta diferença é a declinação a ser aplicada para diferentes regiões do globo.  É comum, e errado pensar que a declinação é a diferença entre o Norte Verdadeiro e o Norte Magnético.  Se fosse assim, ela seria constante para  qualquer lugar do planeta.

Localidade Coordenadas Declinação
Sydney - Austrália 34.0ºS 151.5ºE 13 ºE
Anchorage - USA 61.5ºN 150.0ºW 23 ºE
Buenos Aires - Argentina 34.5ºS 058.0ºW 06 ºW
Montreal - Canadá 45.5ºN 073.5ºW 16 ºW
Los Angeles - USA 34.0ºN 118.5ºW 14 ºE
Perth - Austrália 32.0ºS 116.0ºE 02 ºW
Rio de Janeiro - Brasil 23.0ºS 043.0ºW 21 ºW
São Petersburgo - Rússia 60.0ºN 030.5ºE 08 ºE
Ostrov, Bennetta, New Siberian Islands 77.0ºN 148.0ºE 11 ºW
 

* Usando o modelo IGRF95 para a data de 1998, ignorando as anomalias.

Ok, só não entendi a legenda da tabela!

De tempos em tempos, são levantados dados de campo,  e feitos modelos matemáticos que calculam a declinação para uma localidade em um determinado ano.  O IGRF95 é o modelo hoje em vigor. Esta tabela foi obtida segundo cálculos deste modelo.

Ótimo,... mas e as “Anomalias” ?

 O campo magnético da terra não é fruto apenas da  “materiais ferromagnéticos” que a constituem.  Ele é gerado principalmente por correntes subterrâneas de magma complexas, formando vórtices,  e cada um destes vórtices (redemoinhos de larva) provocam a formação de um dipolo magnético.  Estes dipolos tem intensidade diferente, orientação diferente, e são variáveis ao longo do tempo.  Além disso,  o Vento Solar interfere deformando o campo magnético da terra. Como se não bastasse,  ainda podem existir depósitos de minérios ferromagnéticos que também influem localmente.  No geral,  o campo é relativamente bem orientado,  mas em alguns lugares (Ex: Triângulo das Bermudas),  este erro é enorme e relativamente dinâmico. A tabela acima,  apresenta medidas genéricas, e não se responsabiliza por anomalias locais.  Ficou claro!?

A carta ao lado, mostra através de curvas isogônicas, qual a declição magnética em cada ponto do globo.

Por exemplo,  a linha de valor -28º  que passa sobre o sertão do nordeste brasileiro, indica que ao usar a bússola em qualquer ponto na proximidade desta linha, a bússola deverá ser declinada em 28º para Oeste.  Beleza?!

Mas a minha caminhada não é na Sibéria.  Como saber a declinação correta?

Antigamente (Para mim,  até o início do ano de 2000),  nós consultávamos aqueles mapas atualizadissimos do IBGE ou do Exército e na legenda, aparecia a seguintes inscrição:

Declinação Magnética 19ºW que cresce 1º por ano na direção Oeste.  Aí você deveria ver a data de reimpressão do mapa (Não a data de edição),  calculava quantos anos o mapa tinha (Alguns podem ter a sua idade!),  aí chega a algo como 24º W.

Hoje, você visita um site da internet onde existe uma interface onde você informa  Lat / Log  e o ano para o qual você quer a declinação.  Eu uso o Canadian Geomagnect Reference Field (CGRF)

Fazendo uma consulta para a região de Brasília,  para o ano de 2001, a resposta é a seguinte:

Canadian Geomagnetic Reference Field (CGRF)

REQUESTED:
The magnetic declination in 2001 at Latitude -16 ° 00' N  Longitude 48 ° 00' W

CALCULATED:
The magnetic declination in 2001 at Latitude -16 ° 00' N  Longitude 48 ° 00' W: 19º 46'W

Ah! Lembre-se que se sua latitude é Sul,  então ela deve ser informada em valores negativos ( -16ºS).

Veja que os dados de declinação magnética das cartas mais antigas, podem usar um modelo ultrapassado,  e o pressuposto de evolução constante da declinação pode não ter se mantido.

Aí,  você resolveu economizar uma grana e comprar sua bússola no exterior...

Cuidado! Principalmente com as bússolas de geólogo, pois com estas, queremos e esperamos que sejam precisas.  Saiba que uma bússola tem que ser balanceada para a latitude onde ela vai trabalhar

Quando eu comprei a minha,  a loja me alertou disso (por verem que era uma encomenda internacional), e pediram as coordenadas aproximadas de onde iria usar a bússola.  Aí eles remeteram para o fabricante (Brunton),  para que eles calibrassem a agulha.

Lembre-se que as linhas do campo magnético exercem uma força sobre a agulha.  Se você estiver próximo ao equador,  estas linhas de campo serão tangentes ao Equador,  e com sentido S à N.   A medida que você se aproxima do pólo, elas tendem a ser mais verticais “entrando”  na terra.  Isso faz com que a ponta Norte da agulha tenda a mergulhar, e ela passa a não deslizar livremente sobre o eixo.  Na fábrica, eles colocam um peso na ponta Sul  (no nosso caso),  para que ela fique equilibrada.  A intensidade deste peso depende da sua latitude. Se não fizer isso, a agulha não vai ficar equilibrada sobre o eixo central.

Bússolas geográficas,  são mais baratas,  e são construídas para funcionarem mais ou menos bem entre os trópicos.

Ok, já sei que tenho que calibrar e declinar a bússola, e que correção aplicar.  Mas como é que se declina a bússola?

As bússolas Brunton mais antigas e baratas,  bem como a maioria das geográficas, possuem o vidro móvel, ou uma escala interna móvel independente da escala azimutal. Devemos apenas girar este vidro ou a escala interna ou o vidro, até que faça o ângulo desejado com o Norte.  Este tipo de solução, por falta de alinhamento, dificulta a leitura de rumos.

As bússolas Brunton mais modernas, bem como as Silva 15 (Ranger), Suunto MC-1, e Nexus N15 possuem um parafuso de ajuste.  Este parafuso de ajuste, ligado a um sistema de engrenagem,  faz o disco de azimute girar,  ou então um fundo de acrílico girar.  Isto facilita muito,  pois as linhas meridianas marcadas no disco de acrílico podem ser alinhadas com os meridianos do mapa.

Conclusão:  Se for comprar uma bússola, certifique-se de que ela tenha o parafuso para ajuste de declinação.

Usando a bússola para orientar um mapa

As próximas instruções, devem se possível serem seguidas com um mapa e a bússola em mãos. Vai facilitar muito o entendimento do texto.

A função mais básica de uma bússola em uma caminhada, é orientar corretamente o mapa.  Imagine você estar em campo, em uma região monótona, onde não existem pontos de referências de destaque. Lá está você com um mapa na mão,  e até consegue identificar qual sua posição no mapa, e qual também consegue identificar no mapa o ponto em que quer chegar.

Legal, mas o mapa deve estar em que direção? De ponta pra cima, de cabeça pra baixo, inclinado???  Para saber como orientar o mapa, você precisa da posição do Norte Geográfico.  Por convenção, as linhas verticais do mapa coincidem com a direção Norte-Sul,  e o Norte (Geográfico) é a direção do topo do mapa.  Portanto, para orientar o mapa, precisamos da direção do Norte Geográfico, ou seja, de uma bússola que o indique.

Para isso, coloque o mapa em uma superfície plana, pegue a sua bússola já declinada e coloque sobre o mapa.  Na figura acima, temos uma bússola geográfica, declinada em aproximadamente 14ºW.  As linhas paralelas que estão dentro do disco graduado, sempre ficam apontando para o N do disco graduado. Faça com que estas linhas fiquem paralelas aos meridianos (linhas verticais do mapa). Agora gire o mapa, com a bússola repousada sobre ele até que a ponta N da agulha (vermelha), esteja concordando com a seta grande vermelha gravada sobre o acrílico, acima do disco graduado da bússola.  Neste ponto, o mapa estará orientado. A direção de qualquer ponto sobre o mapa, será a direção que você deverá tomar no terreno.

Usando a bússola de geólogo, o processo é semelhante.  Repouse a bússola declinada sobre o mapa, fazendo o eixo longitudinal dela (da lingüeta) coincidir com o meridiano. Então gire o mapa até que a ponta "N" da agulha coincida com o Zero da escala. Neste ponto o mapa estará orientado.  Na figura ao lado, temos a bússola declinada de 19ºW,  e o mapa deve ainda ser girado para a esquerda até que a agulha "N" coincida com o Zero da escala.

Extraindo uma direção para caminhar

É normal você identificar sua posição, orientar o mapa, e visar um ponto que você quer atingir. Neste caso, você vai querer saber qual a direção (Azimute) em que você deve caminhar para ir direto ao ponto.

Para isso, antes de orientar o mapa, identifique no mapa sua posição atual e seu ponto de destino.  No mapa abaixo, imagine que você está na Faz. Brumado (pertinho da estrada), e quer caminhar até o pico da Pedra Aguda. 

Achou?  Legal!  Use a régua de acrílico da bússola, e com um lápis, faça um traço que una estes pontos (traço vermelho). Se achar necessário, trace uma reta paralela ao meridiano, pois esta indica a direção norte no mapa (traço azul).  Coloque a bússola sobre o mapa, de preferência, com o eixo central sobre a sua posição atual.  Gire o mapa até que ele esteja corretamente orientado (até que a ponta "N" da agulha coincida com o Zero da escala).  

Olhando o ponto onde a linha que você riscou (linha vermelha), intercepta o círculo graduado da bússola, você poderá ver a direção a ser tomada (260º com o Norte, medido no sentido horário).   Agora, agora guarde o mapa, e com a bússola na mão, gire a bússola até que a agulha "N" aponte para o ângulo 260º no círculo graduado. Neste ponto, a lingüeta (mira) da bússola, estará apontando para o Pico da Pedra Aguda.  À medida do possível, caminhe nesta direção, sempre de olho na bússola. Se estiver com a bússola geográfica, siga na direção apontada pela seta vermelha gravada no acrílico. 

Acontece que a bússola (que é parente do GPS), adora indicar o pior caminho. Com isso, você de vez em quando, vai ter que sair da direção correta para desviar de algum obstáculo (morro, pântano, espinheiro, abismo, etc.)  Ao fazer um desvio significativo, ou depois de caminhar um bocado, você deve reavaliar a direção.  Veja que a direção era correta, para quem estava lá na sede da Fazenda.  

No nosso exemplo, tem um morro no caminho (aquele cujo pico está na cota de 997m).  Claro que você desviou, provavelmente pela esquerda.  Quando você optou por fazer este desvio, você deverá novamente reavaliar a direção.  Veja no mapa abaixo, o caminho pontilhado verde, é o que você caminhou,  e a reta verde, é sua nova direção.

Vemos agora que o Azimute deixa de ser 260º para 275º.   Ah!  desculpe a mancada, a reta que indica o norte está traz o nome NM (Norte Magnético), quando na verdade é o NG (Norte Geográfico).  :-)

Acho que agora ficou claro, porque muita gente se perde navegando com bússola.  A direção tem que ser constantemente reavaliada!

Veja que talvez não fosse necessário, visto que o Pico da Pedra Aguda deve ser bem visível, e está próximo (cerca de 4km).  Mas ele poderia ser uma depressão,  um encontro de rios, uma caverna, ou qualquer outro ponto menos evidente.